'Parece que vou desmaiar': mulher relata sintomas de intoxicação por metanol após tomar bebida contaminada
06/10/2025
(Foto: Reprodução) 'Parece que vou desmaiar': mulher relata sintomas de intoxicação por metanol após tomar bebida contaminada
“A sensação é horrível. Parece que eu vou desmaiar. Eu não consigo nem olhar pra tela do celular.” A frase é de um áudio enviado por Bruna Araújo de Souza, que está internada em estado crítico após uma intoxicação por metanol.
A jovem, moradora de São Bernardo do Campo (SP), começou a passar mal horas depois de beber vodca com suco de pêssego em um show de pagode, segundo relato de amigas exibido pelo Fantástico (veja no vídeo acima).
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A jovem relatou o mal-estar para uma amiga. "Eu tô aqui destruída, destruída. Parece que eu tomei a cachaça desse mundo todinho", disse na mensagem de áudio.
Bruna foi hospitalizada com sintomas graves, como tontura, vômitos e perda temporária da visão. De acordo com os médicos, o quadro é crítico.
“Todo o suporte foi muito rápido, mas, pela gravidade com que ela chegou, não temos conseguido o êxito que esperávamos”, afirmou Fábio Silveira Araújo, diretor do Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo, onde a jovem está internada.
Diana Pereira, amiga de Bruna, contou que a jovem passou o dia seguinte ao show vomitando e chegou a enviar mensagens dizendo estar “destruída”. “A Bruna é uma mulher guerreira, batalhadora. Eu quero que ela saia desse hospital e possa retomar a vida dela”, disse.
O caso de Bruna é um entre os 225 investigados sobre intoxicação com metanol encontrado em bebidas contaminadas. Em São Paulo, dois homens morreram após consumir destilados em um bar na Mooca, na zona leste da capital. O local foi interditado.
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Não é a primeira vez que o Brasil vive uma onda de preocupação como esta. Em julho de 1990, 18 pessoas morreram na Bahia depois de uma festa onde tinham bebido pinga feita com metanol. Em dezembro de 1992, dezenas de pessoas foram internadas na madrugada do dia 26, em Diadema. Todas tinham ido a um sambão e tomado “bombeirinho”, uma bebida feita de vodca, groselha e limão. Três jovens morreram naquela mesma semana.
O maior surto de intoxicações por metanol dos últimos anos aconteceu mais recentemente, entre 2016 e 2023. Foram 11 mortes de homens pobres, em situação de rua e vulnerabilidade, dependentes químicos. O surto deixou os pesquisadores em alerta, mas não teve repercussão.
Sobe para 225 o número de casos suspeitos de intoxicação por metanol no Brasil
Reprodução/TV Globo/Fantástico
O antídoto: etanol
O metanol em si não é tão tóxico. O problema é que, quando entra no corpo, ele é transformado, no fígado, em outras substâncias, e essas, sim, é que fazem muito mal.
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É preciso então recorrer aos antídotos. O principal se chama fomepizol. Quem faz a transformação do metanol em substâncias mais tóxicas são proteínas especiais, as enzimas. Quando o paciente recebe o fomepizol, esse antídoto vai lá e gruda nessas enzimas do fígado.
Assim, o metanol não consegue se ligar às enzimas e não é transformado em substâncias mais tóxicas. Ele fica circulando e acaba eliminado pelos rins, na urina.
Quando o fomepizol não está disponível, os médicos apelam para o etanol, o álcool que existe nas bebidas.
O mecanismo é parecido: o paciente recebe uma dose de etanol, calculada pelos médicos, que pode até ser dada na veia. As enzimas do fígado gostam mais do etanol do que do metanol. Assim, o etanol entra e vai logo ocupando as enzimas do fígado. O metanol não consegue mais "colar" nessas enzimas, porque já está tudo dominado pelo etanol. O metanol não é transformado em substâncias mais tóxicas e acaba sendo eliminado na urina.
Uma ressalva muito importante: os antídotos, seja o fomepizol, seja o etanol, só podem ser administrados sob rigorosa supervisão médica.
O principal antídoto, o fomepizol, não estava disponível no Brasil. Esta semana, o ministro da saúde, Alexandre Padilha, anunciou a importação de um fornecedor do Japão. "Conseguimos fechar junto com a Organização Panamericana de Saúde a compra e a entrega de 2,5 mil tratamentos do fomepizol”, afirmou o ministro.
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Arte/g1
Como o metanol age no corpo
O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATOX) de Campinas é um dos laboratórios que analisam amostras de sangue de pacientes com suspeita de intoxicação pelo metanol na bebida.
O metanol é incolor. Apesar de ter um cheiro diferente do etanol (o álcool das bebidas), não é fácil de detectar quando há uma mistura entre eles.
Em até 24 horas, surgem sintomas que podem ser confundidos com os de uma ressaca: náusea, cólica e dores abdominais. A visão fica turva. A pessoa sente tontura e pode ter alterações de consciência. O sangue fica mais ácido. O fígado é atingido, e também a medula e o cérebro. O metanol ainda afeta os pulmões, causando insuficiência respiratória. Além disso, o nervo óptico é danificado, levando, em alguns casos, à cegueira.
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